No auge dos meus oito anos de idade, eu
acreditava no seguinte cronograma capilar: você nascia com pouquíssimos
cabelos. Na sequência, eles cresciam e preenchiam sua cabeça. Quando começavam
a ganhar uma quantidade razoável, você perdia tudo na batalha contra os
piolhos. Então eles cresciam novamente, e então, apareciam as entradas. Depois
eles ficavam grisalhos, em seguida, brancos e, por fim, caíam.
Era o ciclo que eu imaginava e que por
qual todos passavam. Tirando os meus bonequinhos feitos de meia calça e alpiste,
que fique claro. Deles eu sentia uma pontinha de inveja ao observá-los “sentados”
na janela, admirando o sol, felizes da vida com seus cabelos crescendo à base
de água.
Não foi a primeira vez que a cena se
repetiu, embora nunca tivesse apreciado de tão perto. Minha mãe e eu estávamos
no supermercado, quando uma velhinha se aproximou e entrou na fila atrás da
gente. Comecei observá-la, sem ao menos piscar, para entender de uma vez qual o
sentido daquilo.
Eu a observei bem: ela calçava sapatos brancos, meias bege e uma saia comprida. Quando olhei o topo da cabeça, reencontrei minha dúvida cabeluda. Já tinha visto aquele estilo excêntrico algumas vezes, mas não conseguia entender os motivos para tanta ousadia. As pessoas mais próximas que eu conhecia com aquele estilo eram os punks na rua XV ou os personagens estranhos que estampavam as capas dos discos do meu irmão. Entretanto, as mulheres idosas nunca me pareceram rebeldes o suficiente para terem os cabelos roxos.
Eu a observei bem: ela calçava sapatos brancos, meias bege e uma saia comprida. Quando olhei o topo da cabeça, reencontrei minha dúvida cabeluda. Já tinha visto aquele estilo excêntrico algumas vezes, mas não conseguia entender os motivos para tanta ousadia. As pessoas mais próximas que eu conhecia com aquele estilo eram os punks na rua XV ou os personagens estranhos que estampavam as capas dos discos do meu irmão. Entretanto, as mulheres idosas nunca me pareceram rebeldes o suficiente para terem os cabelos roxos.
Várias velhinhas passaram pela minha
vida e a cor predominante dos cabelos - quando não era o branco - era o roxo.
Não era laranja, nem vermelho ou azul. O que me levou à conclusão de que quando
a pessoa ultrapassa o limite da idade com cabelos brancos, ela é
automaticamente contemplada com a coloração violeta.
De qualquer forma, esse raciocínio ainda
era muito estranho. Aí pensei que eu poderia estar apenas enganado. Não seria uma
peruca?
- Mãe, essa mulher aqui atrás está
usando peruca?
- É feio ficar apontando para os outros.
Poderia ser peruca. O que tornava a situação ainda pior. No momento de
lavar a cabeleira com a roupa branca, por engano o neto da senhorinha colocou
uma camiseta roxa e pronto, estava feita a besteira. Se minha mãe já ficava
zangada quando colocávamos pano de prato com camisa social na máquina, imagine
pintar o seu cabelo de outra cor? Por um momento me senti aliviado em não estar
na pele do neto. Se fosse comigo, minha mãe me faria um escalpo sem
ressentimentos.
- É feio ficar apontando para os outros.